Fuja do combustível adulterado

A Carro Hoje mostra os efeitos da gasolina e etanol modificados e ensina como não ser enganado
Redação / Luís Perez - fotos: Renato Durães

Ache um posto de combustível confiável e abasteça sempre nele para evitar dor de cabeça
Sabe aquela máxima de que o barato sai caro? Ou de que tanto faz onde se abastece? Pois é. Na falta de uma bandeira mais conhecida, como BR, Shell, Ipiranga e Esso, só para citar alguns exemplos, alguns donos de postos resolveram “maquiar” seus estabelecimentos para que se pareçam com essas redes e, assim, pegar os consumidores mais distraídos. Não faltam por aí espertalhões que adulteram a gasolina – o etanol é mais difícil, mas acontece –, misturando uma série de solventes, que são componentes químicos bem mais baratos, a fim de aumentar a rentabilidade. E conseguem atingir algo entre 15% e 20% de lucro.

Em alguns casos, os fiscais chegaram a encontrar traquitanas mecânicas. Caso fosse pedido o teste na hora (e a legislação diz que o posto é obrigado a fazê-lo), bastava ao frentista virar uma chavinha longe dos olhos do motorista para que combustível puro saísse da bomba. Haja criatividade!
O primeiro passo para fugir do combustível “batizado” é desconfiar das bandeiras com preços baixos demais. Não existe milagre. Isso não significa que todo preço inferior seja, de fato, uma roubada. Até porque a velha e boa concorrência leva à uma competição honesta. Vale lembrar que no Brasil a gasolina que sai da bomba já tem até um quarto de álcool, o que, em alguns veículos importados, é suficiente para travar tudo. Portanto, a dica é criar o hábito de abastecer sempre no mesmo (ou nos mesmos) posto, escolhido a partir de conversas com clientes que frequentam o estabelecimento. Há quem use essa fórmula e nunca tenha tido problemas.
Se você abastecer em um desses postos que vendem gasolina adulterada, a primeira consequência no seu carro será a perda de desempenho. Na melhor das hipóteses, seu carro vai andar menos e gastar mais. O prejuízo do uso prolongado de combustível adulterado pode ser grande (estamos falando aqui de R$ 500 em diante). Para começar, os componentes irregulares da mistura podem afetar e até entupir a bomba de gasolina, dispositivo que leva o combustível ao motor.
Os primeiros sintomas são as falhas, como dificuldade de fazer o carro pegar – algo que pode comprometer a bateria. Outro problema grave é a corrosão dos dispositivos da injeção eletrônica. O mau funcionamento dela pode fazer o carro gastar mais. Além do risco de ficar na rua, você terá de gastar mais, pois o conserto parte de R$ 1.300. O combustível ruim também pode acarretar a formação de borra, porque atinge a bomba de óleo. No limite, o motor pode fundir, o que fará o reparo custar muito mais.
Não são raras as interdições de postos por esse motivo. Desde que iniciou a operação De Olho na Bomba, o governo paulista, por exemplo, já cassou 881 inscrições estaduais de postos em razão da não-conformidade do combustível.
Em um dos estabelecimentos, amostras coletadas pela equipe da Delegacia Regional Tributária da Capital indicaram 79% de metanol misturado ao álcool hidratado vendido aos motoristas. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), adicionar metanol em qualquer tipo de combustível, acima de 1%, é proibido por ser uma substância tóxica. Se manuseado sem proteção, pode provocar a cegueira e até mesmo a morte.
Nas amostras de gasolina do mesmo posto, foi detectada a presença de marcador de solvente, produto químico de adição obrigatória determinada pela ANP e que auxilia a fiscalização na detecção da presença desse componente, proibido de ser vendido como combustível. Por não ter todas as características próprias da gasolina, o solvente causa a corrosão de peças do motor. Também foi detectado um teor de 58% de álcool na gasolina. O permitido é de até 25%.
A fiscalização consiste em aferir as bombas, conferir os dados cadastrais do estabelecimento e coletar amostras do combustível comercializado, que serão encaminhadas à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para análise.
Não são fiscalizados apenas os postos, mas as distribuidoras e transportadoras. Por ser a ponta do processo, os postos devem receber atenção especial do consumidor, que deve desconfiar de todo procedimento que denote desleixo, como falta de dados do posto, da distribuidora, a negativa em fazer o teste do combustível e até a negligência dos frentistas no uso de uniforme.
Não são poucas as histórias de postos que, apesar de impedidos de funcionar e com os tanques lacrados, abrem à revelia das autoridades. É por isso que a Secretaria da Fazenda mantém em seu site (www.fazenda.sp.gov.br) a opção “Consulta de postos cassados”.
Além de causar prejuízos ao carro e à segurança do motorista (pois o veículo pode parar de repente em uma estrada, ocasionando um acidente), os postos são multados por sonegação fiscal e acionados pelo Procon por desrespeito ao Código de Defesa do Consumidor. Por fim, os donos de postos respondem a processos civis e criminais e ficam impedidos de trabalhar nesse ramo de atividade por cinco anos.

O que acontece no Rio de Janeiro
Segundo levantamento da ANP, nos últimos cinco anos 564 postos foram autuados no estado do Rio de Janeiro e, muitos, mais de uma vez. Mas o número não reflete a especificidade da adulteração, já que ele incluiu também problemas de qualidade acidentais, como infiltração nos tanques. A pedido da Carro Hoje, a agência refinou os dados estaduais: das 1.517 ações de fiscalização feitas este ano, apenas nove geraram autos de infração. A ANP afirma não estabelecer a adulteração na vistoria, o que é feito posteriormente, aí sim, gerando processos (a lei garante a defesa do estabelecimento).
Desse modo, só em nove casos o posto foi interditado pelos fiscais. Ainda de acordo com a ANP, foram feitas 131 fiscalizações em distribuidoras, com três autos de infração. Mas nenhuma foi fechada por causa de combustível adulterado. Para a agência, marcadores químicos usados no combustível, capazes de permitir o rastreamento do fornecedor, estão inibindo as fraudes.
Marcelo Ambrósio, do RJ

O que o combustível adulterado faz no seu carro
✗ Engasgos no motor durante o funcionamento
✗ Perda gradativa da potência e do torque
✗ Instabilidade e vibração em marcha lenta
✗ Dificuldades para dar a partida
✗ Pré-ignição (barulho do motor batendo pino)
✗ Parada total do funcionamento do motor
✗ Maior emissão de poluentes
✗ Elevação considerável no consumo
✗ Corrosão maior dos componentes do motor
✗ Formação de borras
✗ Comprometimento da injeção eletrônica

Como solucionar
Se o problema foi detectado antes de algo mais sério ocorrer, como um motor fundido, leve o carro a uma oficina para limpar os bicos injetores, esvaziar o tanque, trocar as mangueiras (quem sabe até a bomba) e substituir todos os filtros.
O prejuízo causado pelo uso prolongado de combustível adulterado pode ser de R$ 3.000, caso o funcionamento do motor seja comprometido. Espertalhões que adicionam solventes e outras substâncias ao etanol ou à gasolina conseguem lucrar até 20% a mais com a venda, mas podem trazer prejuízos ao veículo e até colocar em risco a vida do consumidor.

Abastecimento sujo
O vendedor Paulo Guedes sempre abastecia seu Chevrolet Celta no mesmo posto com bandeira de uma grande marca, no bairro do Prado Velho, em Curitiba. Achava que era de confiança, até que começou a ter problemas para ligar o carro. Levou ao mecânico e recebeu o seguinte diagnóstico: havia borra de querosene provocada por gasolina adulterada. A adulteração de combustíveis é prática comum em Curitiba.

Por isso, em 2009, o vereador do PSDB, Sérgio Renato Bueno Balaguer, também conhecido como “Serginho do posto”, conseguiu que a Câmara Municipal aprovasse a lei que determina a cassação dos estabelecimentos que vendem combustíveis adulterados. Os postos flagrados podem perder o alvará de funcionamento. A ANP promoveu 545 ações de fiscalizações em 2010, na capital paranaense, que resultaram em oito autuações e cinco interdições por problemas de qualidade no combustível. Este ano foram feitas 97 fiscalizações com 13 infrações, mas não houve interdições. Aline Feltrin, do PR

Veja a conclusão do nosso repórter
É mais provável você ter problemas com etanol ou gasolina em postos de bandeiras pouco conhecidas e com preços muito baixos. Mas nem sempre pagar mais pelo combustível é garantia de que ele não esteja adulterado. O melhor mesmo é criar o hábito. Ou seja, conversar com os frentistas, com o dono do posto, abastecer algumas vezes e passar a frequentar sempre o mesmo estabelecimento.
Quando for viajar, abasteça o carro, de preferência, com gasolina, para não ter de parar em um local desconhecido. Já tive sérios problemas com combustível adulterado. Uma vez, abasteci um BMW X5 em um posto desconhecido em Petrópolis (RJ) e quase fiquei parado na estrada. Atualmente, dou preferência aos mesmos locais. Não pago nem os preços mais caros nem os mais baratos. Procuro me manter numa média. Nos últimos dez anos, não tive nenhum problema, graças a essa prática.

www.carroonlie.terra.com.br

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